quarta-feira, 17 de abril de 2013

Nosso Entrevistado, Gilberto Gomes!

Por Helena Vitória
O artista Gilberto Gomes pintando o quadro "Frei Galvão"

O blog “euemeusamigosimortais” sempre prestigia artistas de relevante papel cultural e, o faz na expectativa de reunir ideias e dividir informações. Mais uma vez o blog garimpa por esse Brasil afora, uma raridade de pessoa: o artista plástico, Gilberto Gomes! Com isso, quem ganha é você.

Para quem não sabe ele nasceu em 16 de outubro, em Santa Terezinha – Aparecida-SP, mas considera-se baiano de coração. Desde cedo sua aptidão pelo desenho já apontava o caminho pelo qual o talento o levaria. E foi na Bahia que o artista construiu uma sólida carreira, para mais tarde espraiar–se entre Rio de Janeiro, São Paulo, Europa, Ásia e Estados Unidos onde obteve Lauréis e Premiações com sua obra. Recentemente, foi um dos 12 artistas brasileiros, que teve seu nome inserido no “International Dictionary Of Artists”, publicado pela Editora World Wide Art Books, nos EUA.

Olhando os traços da pintura desse artista é possível afirmar que ele constrói uma linha muito tênue entre presente, passado e futuro. Gilberto apresenta suas obras numa composição artística atraente e, ao mesmo tempo, com uma temática muito atual. Sua arte não expressa pinceladas agressiva e nem cores fortes, traços expressivos, formas contorcidas e dramáticas como é possível identificar nas telas do pintor holandês Vincent Van Gogh, mas em seus trabalhos estão presentes cores e uma inspiração modernista em um estilo muito próprio, que reflete uma mensagem de calmaria e beleza. Tal trabalho difere também das telas de Munch, as quais traziam tristezas e angustias baseadas nas obsessões e frustrações pessoais do artista.

Com tendência para o extremo e quase beirando o exagero em originalidade, as peças são combativas na defesa de transformações pessoais e sociais, quase como as narrativas teatrais, cujo enredo é muitas vezes metafórico, com tramas bem construídas e lógicas. Vale ainda destacar, sua especialização em desenhos a bico de pena, característica bem marcante nas telas do pintor.

Em suas obras é possível identificar o figurativismo, arquitetura, impressionismo, expressionismo, futurismo, abstracionismo que nos remete ao modernismo, pois elas refletem intensas emoções. A riqueza de detalhes que o artista empresta às suas pinturas é o que mais impressiona. Tudo está ali, devidamente exposto, respondendo aquilo que por acaso pensa-se em perguntar. Claro que há inúmeros elementos a serem observados, mas isso é o que chama mais a atenção.

Blog: O que é mito e o que é verdade nesse universo das artes plásticas: a pintura reflete uma atitude mais tranquila e reflexiva ou a pintura dá asas ao artista para que esse não refreie sua imaginação e fuja de toda e qualquer referência à realidade?
Gilberto Gomes: Tudo depende do que vai ser pintado. Se pintarmos uma paisagem com conotação realista, devemos imprimir algo condizente com a realidade. Se pintamos algo subjetivo, daremos asas a nossa imaginação e criatividade. Podemos também nas bases realistas, imprimirmos nossas características pessoais à obra - como se fosse uma Releitura da nossa visão. Assim, podemos pintar um retrato que pareça com o retratado, mas deixando na obra, nossa interpretação. Seria como cantar a música de um determinado cantor, porém usando sua voz.

Como você mesmo define em uma de suas telas, “O Espelho da Alma se resume em Sensibilidade, Paleta, Tintas e Pincéis!”. É possível dizer que recorre à cor como meio de expressão e como forma de engrandecer o caráter, procurando penetrar psicologicamente para revelar a alma do retratado. É isso mesmo?
Independente de Cores temos que ter em primeiro lugar a arte. Se a temos na alma, provavelmente com meia dúzia de traços, conseguiremos imprimir os sentimentos. Às vezes uma obra rica em cores, não possui a sensibilidade e maestria de algo mais simples. Cito como exemplo uma passagem do pintor italiano Giotto, que enviou ao Papa Julio II um papel com apenas uma circunferência desenhada. A mesma foi feita com um toco de carvão, de uma só vez, dando um resultado tão perfeito que os arquitetos e artistas do Papa ficaram impressionados com a destreza do pintor.

As pinceladas de azul, branco e dourado sobre suas telas (característica bem marcante em seus traços) revelam qual tipo de universo?
Revelam meu universo interior, o da alma, visto que os azuis representam a longitude e o atemporal, enquanto que os dourados, a magia e nobreza de caráter.

Ao analisar suas pinturas, nota-se características com o sacro. Mas ela ilustra também algo de “profano”, ao retratar o nu mesclado com semelhanças de anjos/arcanjos, os dois elementos se conjugam de maneira insólita. O que, de fato, há de santo ou profano em suas obras ou tudo não passa de mera coincidência?
Evidentemente, se olharmos o retrato que pintei de “Frei Galvão”, saberemos que se trata do Santo. Mas um nu ou outras composições envolvendo o corpo poderão levar o espectador a criar sua própria visão. O resto é pura coincidência.

Há uma de suas telas (catalogadas) "Maternidade" em 1981, que foi estampada nos Bilhetes da Loteria Federal da CAIXA, nas Séries A, B e C, em 12 de maio de 2001 – em homenagem ao Dia das Mães. Fale um pouco do que foi esse reconhecimento ao seu trabalho.
Em 2000, a convite do senhor Emilio Carazai, presidente da Caixa Econômica Federal de Brasília-DF, minha obra “Frei Galvão na Glória”, foi reproduzida nos Bilhetes da Série A. O sucesso atingido (sendo uma estampa da série artes) fez com que a CAIXA me concedesse um premio “Bilhete do Ano”, possibilitando assim, que mais uma de minhas obras fosse estampada nas séries A, B e C. A data proposta foi o Dia das Mães. Daí, preferi indicar a tela “Maternidade”, pois foi um trabalho que fez parte das minhas pinturas realistas. Foi sucesso absoluto! Inclusive, segundo a História dos Bilhetes da CAIXA, sou o único artista brasileiro a ter duas estampas nessa Loteria. Em se tratando de bilhete de loteria, que tem um público imensurável, tudo leva a crer que a obra foi vista por um grande número de pessoas. Gratificante para o artista, é saber que sua arte tem longo alcance, transpondo localidades, dialogando com pessoas de vários lugares, causando-lhes diversas emoções. É o que podemos chamar de retrato do gesto.

Deu muito trabalho reunir toda, ou quase toda, sua obra em uma coletânea intitulada “Contando a Arte de Gilberto Gomes”? Fale um pouco desse seu momento.
O bom é que o trabalho se resume numa grande satisfação. Esse Projeto “Contando a Arte...”, faz parte de uma coletânea que engloba 22 artistas de expressão da Arte Brasileira, dentre eles, Djanira, Portinari, Waldomiro de Deus, Antonio Peticov, Cláudio Tozzi, Aldemir Martins, Di Cavalcanti, e muitos outros artistas. O resultado foi o prêmio dos prêmios. Naquele momento, pensei: "agora estou ao lado dos artistas que admirava quando criança". Tal experiência confirmou que escolhi o caminho certo, graças a Deus! Momento memorável em minha carreira aconteceu quando o livro foi escolhido para concorrer ao Prêmio Portugal Telecom, ao lado de escritores e livros de artistas renomados da fase biográfica. O livro foi bem aceito, me tributando o quarto lugar do evento, e com isso, me abriu caminho para o reconhecimento Internacional. A procura pelo exemplar foi tão grande, que logo esgotou a primeira edição, rendendo a editora uma segunda edição quase que emergencial.

Qual é a sua visão de mundo pela lente das telas, pincéis e tintas? Há alguma referência artística que o tenha inspirado, como por exemplo: Salvador Dali, Van Gogh, Munch, Monet, Kandinsky, Tarcila do Amaral ou outros tantos que marcaram nossas artes plásticas?
Todo o artista tem suas influências, principalmente no início de carreira. Porém, quando se alcança as próprias experiências, criamos nossa identidade própria. E mesmo que tenhamos uma diversidade de fase, é possível reconhecer uma obra mesmo que essa não esteja assinada. Um ator se inspira em interpretações de outros atores e assim por diante. Nas artes plásticas não é muito diferente, Quando iniciei minha carreira, observei de perto o estilo de pintar de Antonio Parreiras, Pedro Alexandrino, Portinari, Monet, dentre outros geniais artistas.

Lendo sobre Van Gogh, comenta-se que o artista ao pintar suas inúmeras obras tinha de libertar-se dos motivos originais e mergulhar na sua própria imaginação, criando imagens inspiradas dentro de si. É possível perceber tal semelhança também nas obras do Gilberto Gomes?
Perfeitamente. Basta observar que mesmo numa obra convencional, é possível perceber o recôndito, a interpretação e minha identidade, principalmente na fase expressionista, que é quando o artista torna–se mais criativo se liberando dos "ismos",  permitindo o fluir de linguagens e sonhos, sem obedecer critérios, convenções, etc

É possível perceber em suas obras alguma semelhança com a pintura metafísica?
Em arte, toda e qualquer percepção torna-se possível. Giorgio de Chirico, Carlo Carrá e Paul Delvaux, são três nomes representantes dessa pintura, pois em seus traços mostram conhecimentos das técnicas surrealistas e, imprimiam em suas obras conotações metafísicas. Da mesma forma eu procedo. Dependendo do tema em que a obra foi produzida, é possível que o espectador encontre em alguns trabalhos meus, algo de metafísico. Como dizia o pintor Castellane: “a junção de técnicas se denomina 'axiomismo' e isso sugere que uma obra possua várias tendências numa única conotação”. Como a pintura metafísica recusa a arte abstrata contrapondo-se às correntes futuristas e cubistas, evidentemente que o espectador somente a encontrará nas obras de cunho figurativo.

No teatro (universo no qual eu atuo), o artista utilizando diferentes formas de comunicação, ainda assim, precisa da arte e da técnica para comunicar-se com a plateia. Dessa forma, ele consegue transmitir suas ideias, sensações e sentimentos. Nas artes plásticas é usado o mesmo recurso? O apreciador das galerias de arte consegue fazer essa leitura ao olhar uma de suas telas?
Como toda arte, as visuais também oferecem essa percepção ao espectador. Digamos que uma obra abstrata, com toda sua subjetividade, poderá oferecer diversas visões, inclusive títulos, a quem a observa. No entanto, existem observadores que não conseguem enxergar nada. Já ouvi muita gente dizendo: "não vejo nada naquela obra, a não ser borrões". Se um observador possuir tamanha sensibilidade, com certeza descobrirá nas manchas de um muro, coisas fantásticas! Citaria Miguel Ângelo (artisticamente conhecido por Michelangelo), que fitava as nuvens para descobrir suas figuras. Conheci pessoas que ao assistirem uma peça de teatro, dormiram na plateia.

Como surgiu o convite para participar na exposição das olimpíadas de Londres, em 2012, com sua obra "SPIRIT OLYMPIC" e sair do evento trazendo na bagagem uma medalha de participação?
Um dia ao abrir minha caixa de e-mails, estava lá uma mensagem do Zeng Kejun (Conselheiro Cultural da Embaixada da China no Brasil), convidando-me para os Jogos Olímpicos de Londres. Minha primeira impressão foi pensar que se tratava de confusão de nomes, afinal não sou atleta! A mensagem estava em Espanhol e assim que fiz a tradução, constatei que o convite era para mim mesmo. A mensagem dizia: "tenho grande apreço e admiração pelo seu belo trabalho e espero uma obra sua magnífica". Essas palavras pra mim já seriam um premio, pois o Zeng é tido como um dos maiores experts em arte e cultura mundial.
Após ler a mensagem, tomei conhecimento que todos os jogos olímpicos (desde Beijin/China) teriam como parte oficial em seu calendário, uma Mostra Internacional de Artes, cuja temática estivesse voltada às olimpíadas. Como toda Olimpíada é patrocinada culturalmente pelo País que antecedeu os Jogos, ficou fácil. Portanto, a mostra "Olympic Fine Arts/Creative Cities Collection" seria realizada como parte dos jogos olímpicos de Londres 2012, com abertura oficial no Royal Museu/Barbican Centre Arts/Londres. Mostra essa, composta por 500 artistas selecionados entre 15.000 provenientes de 80 países dos continentes participantes dos jogos. Apenas seis brasileiros convidados!
A Medalha Olímpica de Ouro, foi concedida a todos os artistas premiados no evento. A obra “Spirit Olympic”, foi uma delas. Com toda modéstia, é um sentimento nobre receber algo tão valioso em termos de premiação. Tal exposição é considerada a maior do mundo em termos de arte. Fiquei honrado de ter participado junto a 500 artistas que foram selecionados por uma respeitada curadoria a nível internacional. Palavras não conseguem traduzir a minha felicidade.

São mais de 30 anos de carreira. Mudou alguma coisa depois dessa participação nas Olimpíadas?
Tudo muda e isso é previsível. Afinal, trabalhamos para que nossa arte chegue até as pessoas. Com isso, o reconhecimento vem junto. Quando fui convidado para esse evento de grande magnitude das artes, agradeci a Deus por ter me dado o privilégio de ser artista e me conduzido pelo caminho certo. O reconhecimento da obra e também do artista nessa mostra, trouxe benefícios em termos de valorização do meu trabalho e, possibilitou a inserção do meu nome na História da Arte Universal. Isso abre outras portas, como por exemplo, já estou na lista de convidado especial para os Jogos do Rio de Janeiro.

Uma pergunta que sempre faço aos meus entrevistados: O que você leva do Gilberto Gomes para suas telas?
"Pensamento, coração e alma", a trilogia que rege minha criação - pois, para construir uma obra de arte é preciso meditar muito, sentir a essência e criar a efervescência interior. O resto vem com paleta, tintas e pincéis.
Entre as décadas de 1975 a 1990, em algumas das pinturas de motivos religiosos e mitológicos, usei minha própria fisionomia como modelo. Algo perfeitamente aceitável nas artes, pois os artistas costumam às vezes e até inconscientemente, deixarem seus traços em algumas obras. Isso faz parte da nossa Identidade e sensibilidade.

Saiba mais sobre Gilberto Gomes e suas obras: www.gilbertogomes.com.br

sábado, 29 de setembro de 2012

A Televisão completou 62 anos. Parabéns!



Há exatos 62 anos, em 18 de setembro de 1950, começava a história da TV no BrasilUma caixinha de luz branca, acinzentada, que exibia imagens em movimento - uma novidade meio confusa para os munícipes do Brasil naquele primeiro momento. Essa inovação foi crescendo, ganhando credibilidade e se tornou uma companheira inseparável dos lares brasileiros.

Somente na década de 70, com a chegada das telenovelas, a televisão começou a se impor. Com suas programações recheadas de fantasias, pequenas histórias, produções inesquecíveis, situações amorosas, corriqueiras, quase reais, e boas pitadas de dramas sociais, consegue nos enredar por suas histórias, todos os dias. Crônicas eletrônicas da vida cotidiana, risos, lágrimas, informações e entretenimento são exibidos diariamente e, a cada ano, a tevê rejuvenesce impactando o dia a dia da sociedade. 

Mesmo em face de tantas tecnologias, a televisão tem conteúdos ficcionais mesclados à realidade, que emociona-nos com a mesma intensidade que nos aborrece. Seja pela dramaturgia ou pelas notícias diárias.

A TV digital ou qualquer outra ferramenta tecnológica que surgirá no setor futurologista consagrará ainda mais esse aparelho que é pós-moderno e vive do trivial, do fragmento, do "desestetizado". Essa companheira cheia de charme, com suas telenovelas, séries e seriados, formatos esses que interatuam artes nobres, antigas, conseguiu atrair milhares de admiradores fiéis ao longo dos anos. Suas técnicas serão sempre contemporâneas. A televisão
opera a relação arte/magia/comunicação.

Nossa TV completa 62 anos e seu desafio ainda é o mesmo do dia 18 de setembro de 1950: "renovação constante".

sábado, 8 de setembro de 2012

Parabéns, Helena!


Domingo, 09 de setembro. Mais um aniversário. O tempo passa e com ele vamos ficando mais experientes. Uma coisa é certa: os anos servem para somar amizades e conhecimentos.


Conheci pessoas incríveis nos últimos anos. Não dá para contabilizar. A cada aniversário, uma nova experiência. Não reuni os amigos, e nem marquei nada com eles neste aniversário, porque não seria uma boa companhia. Tenho passado por problemas pessoais e profissionais, que me impedem de celebrar o momento como se deveria.


Mas, para o próximo ano, estou planejando algo surpreendente para meus amigos de perto e também os de longe. Minha lista está como a do “Schindler”. São muitas pessoas e, não posso correr o risco de deixar alguém de fora. É surpresa, aguardem!


Agradeço aos amigos que me enviaram mensagens e fizeram ligações.


Beijos!

terça-feira, 24 de julho de 2012

31 de Julho - Dia da MULHER Africana

Em 31 de julho comemora-se o Dia Internacional da Mulher Africana, data celebrada desde 1962, constituída em Tanzânia – Dar – Es – Salaam, na Conferência das Mulheres Africanas.


A comemoração é feita a partir das lutas e conquistas que essas mulheres vêm, ao longo dos anos, ultrapassando para conseguir visibilidade e respeito perante à sociedade.


As mulheres africanas já passaram pelo regime escravocrata, tráfico de mulheres para outros continentes; obrigatoriedade do uso de burkas em algumas regiões, mutilação genital, violência familiar e, ainda, escassez de instrução.


Depois de quase cinquenta anos de comemoração, ainda hoje as reivindicações e debates seguem a mesma linha, sobretudo, o papel da mulher na reconstrução da África. Essas mulheres buscam melhoramentos na educação, abertura no mercado de trabalho, informação, valorização, respeito, paz e democracia.


Parabéns a vocês, mulheres africanas!


Fonte do texto: http://www.feirapreta.com.br/?p=1325


Foto: Helena Vitória não é de origem africana, mas reconhece a necessidade da urgência de políticas públicas nacionais e internacionais na valorização da mulher negra.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

60 Anos da Telenovela. Viva a telenovela brasileira!

Por Helena Vitória

As telenovelas dos últimos anos foram decisivas para posicioná-las entre os principais produtos no cenário global da indústria e da cultura brasileira. "É um fenômeno de memorização de fatos, ideias, situações e personagens. A sua fonte de inspiração é uma forma, uma perspectiva de olhar para o mundo, articulando, dessa maneira, a intersecção entre a realidade e a ficção" , na perspectiva da Maria Ataíde Malcher, no livro "A Memória da Telenovela - Legitimação e gerenciamento".


Mas tão importante quanto à consolidação do seu processo de internacionalização, é a forma como a novela conduz suas tramas: foco no cotidiano, conflitos familiares, ações afetivas dos amigos, amores impossíveis... É assim, por meio do aprofundamento da relação com os diversos setores da sociedade, que a telenovela cada vez mais concretiza seu "compromisso" com as pessoas, ou seja, a simples familiaridade do telespectador com discussões bem orientadas sobre preconceitos, violência e saúde sinaliza um avanço da telenovela e da sociedade que incorpora informações, conhecimentos ou "comportamentos".

As novelas conquistam uma produção mais bem acabada e, a cada dia, evolui mais. Em 21 de dezembro de 1951, vai ao ar "Sua Vida me Pertence", a primeira novela brasileira, ainda não diária. Em 1963, na extinta TV Excelsior, às sete da noite, estreava a primeira trama diária: "2-5499 Ocupado", com Tarcísio Meira e Glória Menezes. Nesse período, surgia uma nova era para o formato na sociedade, inserindo o Brasil nas bancas de revistas, formando assim uma agenda de discussões de valores nacionais e internacionais, elevando o gênero a um papel de destaque na formação da identidade brasileira.

Na década de 60, a telenovela brasileira deixa o estilo de revista e começa a criar sua própria forma narrativa: realista e atualizada, reforçando o que foi dito acima, "foco no cotidiano".
Geralmente os folhetins são assim: um espelho dos problemas e incertezas que oprimem os personagens. No problema de cada um, uma lição de vida. E o gancho infalível é o amor impossível. Apesar do óbvio ingrediente, ele sempre funciona. Por esse ângulo, pode-se, talvez, descrever infinitamente os múltiplos recursos de que dispõe uma novela, inclusive, historiar as épocas que são correlatas suas tramas.
Leva-se em conta, que cada trama é uma narrativa e, às vezes, requer certa irreverência para contar as histórias do Brasil e do mundo, porque o produto é híbrido, próprio, peculiar, com textos ágeis e envoltos a mistérios, fazendo os folhetins garantirem boa acolhida junto ao público.

A telenovela é dona de inegável prestígio e um incontável público. Sua longa existência comprova-nos que a cada dia a vendagem de suas estórias chega com força total aos mais distantes países de culturas diversificadas.
Este fenômeno que pode parecer natural é, na realidade, o resultado de uma evolução histórica de primordial importância na cultura de um país.

E assim, tudo começou: No ar, mais um campeão de audiência!

Curiosidades:
As novelas mais vendidas:
"Terra Nostra" - 84 países,
"Escrava Isaura (Rede Globo) - 74 países;
"Laços de Família" - 66 países;"
"O Clone" - 63 países;
"Sinhá Moça" (1986) - 62 países

Fonte - curiosidades: Revista Contigo - edição especial - CGCOM/Abril - 2005

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Fora de Controle

Por Helena Vitória

Parafraseando Isabela Boscov, da revista Veja: De vez em quando, mas muito de vez em quando, uma série consegue se destacar completamente no cenário da que ela é. Esse foi o caso de “Fora de Controle” exibido em quatro episódios pela Record, em maio, quando trouxe mais uma vez para a tela da TV, a questão da ética policial. Apesar da intenção dos autores, Marcilio Moraes e Gustavo Reiz, não ter sido promover tal discussão,  foi possível assistir o enredo sem tecer comentários ou, fazer algumas comparações com fatos do cotidiano veiculados nos noticiários.

Segundo o autor Marcílio, na coletiva de imprensa da emissora(http://videos.r7.com/autor-da-serie-fala-sobre-sucesso-do-projeto/idmedia/4f996614fc9b6f4f89a09f88.html), o policial/investigador dessa série foi pensado à partir dos moldes clássicos do policial da década de 10/20, de autoria de um escritor americano, que citou algumas características que devem ser pautadas nas normas de um policial: crime + investigação = solução.,

A trama teve o Rio de Janeiro como pano de fundo e girava em torno do delegado Medeiros (Milhem Cortaz), seu fiel escudeiro, o Brandão (Cláudio Gabriel) e ainda, do “amor” mal resolvido do delegado com a inspetora Clarice (Rafaella Mandelli). Os citados atores estavam maravilhosos, com um timbre perfeito em suas interpretações conseguiram contar a história que queríamos assistir. Pelo menos a mim, o seriado conseguiu seu objetivo. Sou de uma época em que assistia-se “Kojak”, um seriado americano exibido no Brasil na década de 70, no qual mostrava-nos um tenente de policia que trazia para seu distrito algumas malandragens das ruas de Nova York, escandalizando colegas da delegacia. Papel muito bem desempenhado pelo ator Telly Savalas. Lembro-me também, que gostava de ler revistas em quadrinhos que abordavam a investigação, cito: Zagor, Tex, dentre outras. Em minha casa convivia com meu irmão, que seguiu carreira militar. Daí, esse universo sempre esteve presente em minha vida diária.

Cada episódio de “Fora de Controle”, ainda com enredo diferente e mesclado a outros atores, não confundia o telespectador, muito pelo contrário, conseguia-se desvendar o mistério junto com o Medeiros e, às vezes, até "antes" dele. Uma das principais qualidades da série nasce da recusa dos autores em seguir  uma linha narrativa convencional, promovendo a interação entre os personagens de uma maneira nada ordinária. Apesar das suas fragilidades e inconstâncias enquanto seres humanos.  Eles se chocam uns com os outros e destes encontros é que surgem novos braços para a trama. A originalidade com que esse caos urbano, a violência, foi retratada, mostra-nos uma série  inteligente, pensada, elaborada, tinha um propósito e sabia exatamente onde queria chegar, exibindo a graça, a leveza e a perspicácia que ela foi construída.
Como nenhum dos personagens se revela na primeira camada e como há muitos deles para administrar, o desenrolar para seus dramas se complica em subtramas, intervenções externas e apêndices. Mas o Marcílio organiza os desfechos no “final” e, a série não se alonga em paralelismos que poderiam tirar a força das tramas centrais, deixando espaços mais resumidos para alguns dos personagens mais interessantes. E isso que é o bacana em um trabalho como esse: a organização das ideias e o conjunto da obra.

Claro que toda obra nunca é completa e tem seus altos e baixos. Porém, não me especializei em crítica de teatro, televisão, cinema ou outras mídias, por isso preferi registrar minha visão enquanto telespectadora.

Enfim, “Fora de Controle” me permitiu mexer no “controle” da TV e, conferir que a série foi excelente, focando um anti-herói fictício variando de aventuras breves sem precedentes das proezas dedicadas aos atos em prol do interesse público.

O autor da série, Marcílio Moraes, é um profissional que acompanho seu trabalho há muitos anos e, sei de sua enorme capacidade de contar boas estórias. Esse roteiro foi muito bem disciplinado e calculado dentro da sua galeria de bons trabalhos. A ele, meu muito obrigada por mais este presente.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Nossa Entrevistada, Eliana Pace!

Por Helena Vitória

Transformar um país ou trabalhar no sentido de mantê-lo mais culto é tarefa para pessoas perseverantes e que valorizam o conhecimento humano. Para dar sua rica contribuição à história das letras, a paulistana Eliana Pace, jornalista, relações públicas e diretora da Pace Consultoria em Comunicação na capital paulista, atua no mercado editorial há mais de dez anos e, desde 2004, colabora com a Coleção Aplauso da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo na qual apresenta aos brasileiros um projeto cujo objetivo é resgatar e preservar a memória da cultura brasileira, biografando uma personalidade do teatro, televisão, música, artes plásticas, cinema, esporte, literatura, ou de outra área de atuação, que, por meio de sua atividade, contribui com a sociedade.

Sabe-se que relatar fatos do cotidiano talvez não seja tarefa muito fácil para quem se propõe a narrá-la. Esses relatos devem ser didáticos, claros e cheios de intensidade. Assim, garante-se que o leitor chegará ao fim da história. Seguindo esse raciocínio, “mestres das palavras” costumam usar seus textos para manter viva nossa história cultural. Por esse prisma, a veterana jornalista dedica-se a essa cuidadosa elaboração, valendo-se de informações precisas numa linguagem coloquial que, com elegância, consegue exprimir as sensações, amores, alegrias, dores, temores, as angústias, perdas e ganhos, preservando sem questionar as individualidades de cada um dos seus biografados. O resultado é um presente para o público que recebe uma história coesa, aproximando o entrevistado do leitor.

A escritora opta pelo registro, quase em formato de crônica, para compor essa coleção, que se lê mais como um agradável romance episódico do que uma biografia oficial ou fonte de pesquisa. Tudo é tão fascinante quanto “inalcançável” para a maioria de nós pobres mortais. A fim de trazer o assunto um pouco mais perto do leitor, Eliana debruça-se por seis meses sobre todo o material selecionado, procura ouvir o biografado e pesquisar tudo o que fez ou faz parte do seu convívio (correspondências, família, amigos, fotos e outros). Vale lembrar, que o bacana desse projeto é que o homenageado recebe a honraria ainda em vida. Já de início, a biógrafa esclarece: sua meta é mostrar o sopro do gênio do perfil, por meio do seu cotidiano. Assim, fica fácil conduzir o leitor por uma paisagem mais real.

Historiadora das mais competentes, sua obra tem o realismo das descrições. A soma de conhecimentos literários e o tratamento estilístico que empresta à obra lembram a influência das epopéias antigas, gênero épico clássico, com a interferência dos deuses. Ainda que tal trabalho não sejam as aventuras narradas nos escritos de Homero. Eliana nos brinda sempre com um livro magistral. Um de seus últimos trabalhos, “Nivea Maria – Uma Atriz Real” (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2008 - 244 páginas) foi escrito em parceria com o Mestre e Doutor em teledramaturgia pela USP, Mauro Alencar, consultor da Rede Globo de Televisão.

Para apresentar parte desse rico trabalho, a jornalista concedeu aos amigos imortais um bate papo bem agradável para fomentar esse espaço, que é dos amigos!

Blog: Quantas obras levam sua assinatura?
Eliana: Pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, assino as biografias dos atores Renato Consorte, Vera Nunes, Geórgia Gomide e Paulo Hesse, a da dramaturga Leilah Assumpção e a do compositor e cantor Sérgio Ricardo. Em parceria com Mauro Alencar, fiz as biografias de Nivea Maria, lançada também pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, de Elisabeth Savalla, em fase de aprovação, e a história da TV Paulista (essa ainda não foi lançada). Colaborei ainda com Renata Soffredini na biografia de Carlos Alberto Soffredini, dramaturgo.


Qual a data exata em que começou a biografar?
Comecei em 2005, com duas biografias ao mesmo tempo: Renato Consorte e Leilah Assumpção.

Quanto tempo se leva para completar uma biografia?
Aproximadamente seis meses com exceção da TV Paulista, que demandou quase quatro anos de trabalho.

Quais os objetivos de um projeto como esse?
As biografias lançadas pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, dentro da Coleção Aplauso, têm como objetivo o resgate e a preservação da memória da cultura brasileira por meio da história, narrada em primeira pessoa.

Como ocorreu a parceria Eliana Pace e a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo?
A Imprensa Oficial do Estado selecionou profissionais com experiente currículo em jornalismo cultural para escrever as biografias, porque este gênero tem elementos de reportagem. Os jornalistas sabem perguntar, ouvir e organizar as informações. Rubens Ewald Filho, crítico de cinema e coordenador da Coleção Aplauso, um grande amigo desde a época da Faculdade de Jornalismo (que cursamos juntos), convidou-me pessoalmente para me integrar ao grupo. Adorei fazer esse trabalho porque uni o prazer em ouvir à escrita da história de vida dos outros e fiz amigos muito queridos entre os meus biografados.

Qual o público alvo da “Coleção Aplauso”?
São livros que não atingem um público específico. Além de atrair o leitor comum, direcionam-se a todos que queiram ler uma boa história.. Interessam igualmente aos estudiosos das artes cênicas. Os exemplares são distribuídos para bibliotecas.

O processo da elaboração da obra, os encontros com o entrevistado, horas e horas ouvindo suas narrações, se assemelham a uma sessão de psicanálise? O jornalista/biógrafo acaba fazendo este papel?
Em principio, se não houver empatia entre biografado e jornalista, a obra não avança. Tem que haver entre as duas partes respeito. Principalmente da parte do jornalista. Não basta só o conhecimento da obra do artista, mas o carinho pelo seu biografado. Pelos muitos encontros, não é raro que eles se tornem amigos íntimos.
Cada um dos meus biografados me deixou uma lição de vida. Renato Consorte, durante as entrevistas, me fazia rir e chorar. Leilah Assumpção é a dramaturga das mulheres da minha geração que rompeu barreiras, ou seja, havia um entendimento tácito entre nós por conta das nossas vivências. É minha grande amiga até hoje. Vera Nunes eu a conhecia socialmente, até que sugeri ao Rubens Ewald que ela fosse biografada. Geórgia Gomide, que perdemos há pouco tempo, passou a sair comigo para passear. Íamos ao teatro, viajávamos juntas. Ela me levou para conhecer o Projac... Infelizmente, não conseguimos realizar a montagem do curta metragem que escrevi para ela encenar.

Li uma vez em algum lugar (não me recordo agora), que normalmente o biógrafo “apaixona-se” pelo biografado e o isola no tempo e no espaço como se ele não pertencesse a um espaço cronológico e a cultura desse tempo. Você acredita nisso ou acha que há um exagero por parte de quem fez essa fala?
Não há exagero na afirmativa, porque quem escreve uma biografia tem que ter, no mínimo, respeito e carinho por seu biografado. Comigo aconteceu um fato marcante. Eu era apaixonada pelo compositor Sergio Ricardo desde a minha juventude, quando dava aulas de violão em Santos, e tinha todos os seus discos, dos antigos LPs aos atuais CDs. Nunca havia tido a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente. E, quando me foi dada a chance de biografá-lo, pedi 24 horas para estabelecer um primeiro contato com ele, pois precisava controlar a emoção. Firmou-se entre nós uma enorme amizade e, em um dos encontros em minha casa, pedi a ele que autografasse todos os meus LPs e CDs. Rimos muito dessa situação. Em uma entrevista que ele deu para o jornal O Estado de São Paulo, o violão que ele abraça, é o meu!

Já aconteceu de em um determinado capítulo do livro, o entrevistado lembrar-se de um momento emocionante que vivenciou em alguma época, se emocionar e levar o entrevistador ao mesmo sentimento?


Com Renato Consorte, ri e chorei durante o processo do livro. Senti-me uma espectadora privilegiada porque era única em determinadas cenas, por exemplo, quando ele contava uma piada só para mim e me fazia gargalhar. Quando narrou o gravíssimo acidente de avião que sofreu, nós dois choramos.
Com Sérgio Ricardo, nossos primeiros contatos foram feitos por e-mail, porque ele mora no Rio e eu em São Paulo. Mandei a ele algumas perguntas sobre a família, para que me respondesse. O material era tão emocionante que transformou-se no primeiro capitulo de sua biografia. Ele preferiu que eu assumisse o texto para não se emocionar mais.

Mia Couto, jornalista e autor de vários livros, em seu “Poema da Despedida”, afirma: “Nenhuma palavra alcança o mundo, eu sei. Ainda assim, escrevo”. Você também pensa assim?
Sou uma profunda admiradora de Mia Couto e é possível que ele tenha razão. Nenhuma palavra alcança o mundo, mas se alcançar uma parcela ínfima que seja de pessoas, ainda assim terá semeado ideias e sentimentos.

Em um país considerado “sem memória”, você acredita que, com uma obra dessas, é possível exercer a atração pela leitura?
Juntemos essa afirmação ao culto da celebridade, ao sucesso instantâneo. Se o brasileiro tem tanta curiosidade pela vida de um BBB qualquer, deveria ter também pela história de um ser humano com mais consistência e valores, por assim dizer. O ser humano é sempre o personagem principal de qualquer história, seja uma personalidade ou um anônimo, um avô ou um mestre. Todos têm um tipo inesquecível.

Ao narrar um perfil você costuma pensar: “Trata-se de uma contribuição a mais na valorização da cultura brasileira?”.
Sim, no caso da Coleção Aplauso, são histórias tão ricas de vida, que vale a pena serem levadas ao conhecimento público.

Desse valioso acervo humano, o que mais destaca?
Ganhei amigos preciosos. Leilah Assumpção diz que transformei sua história de vida em uma pequena obra prima. No livro de Sergio Ricardo, mostrei que sua biografia é muito mais ampla e consistente do que o episódio do violão quebrado num festival de música popular.

Você não escreve apenas para a Coleção Aplauso. Existem títulos de ficção com seu nome. Como é transitar entre a ficção e a realidade?

São sintonias diferentes. Mauro Alencar recebeu da Editora Globo a incumbência de transformar em livros cinco grandes novelas: Roque Santeiro, Pecado Capital, Selva de Pedra, Vale Tudo e O Bem Amado. Topei o desafio e, praticamente em dois meses, finalizamos os livros que foram comercializados, inicialmente, nos catálogos da Avon. Até hoje, agradecemos a oportunidade dessa experiência super gratificante para nós dois, pelo prazer e privilégio de conhecer o texto de grandes autores como Janete Clair e Dias Gomes.

Deixe-nos algumas reflexões:

Prefiro pecar por excesso de ação do que por omissão. Vale para a vida real e a profissional”.

Uma vida de sucessos não rende necessariamente uma boa biografia”.



O universo intimo de cada pessoa e sua história de vida são especiais não apenas para quem com ela conviveu, mas para aqueles que conhecem de longe sua trajetória de sucessos ou dores”.


Fonte da foto: Acervo da entrevistada