quinta-feira, 31 de maio de 2012

Fora de Controle

Por Helena Vitória

Parafraseando Isabela Boscov, da revista Veja: De vez em quando, mas muito de vez em quando, uma série consegue se destacar completamente no cenário da que ela é. Esse foi o caso de “Fora de Controle” exibido em quatro episódios pela Record, em maio, quando trouxe mais uma vez para a tela da TV, a questão da ética policial. Apesar da intenção dos autores, Marcilio Moraes e Gustavo Reiz, não ter sido promover tal discussão,  foi possível assistir o enredo sem tecer comentários ou, fazer algumas comparações com fatos do cotidiano veiculados nos noticiários.

Segundo o autor Marcílio, na coletiva de imprensa da emissora(http://videos.r7.com/autor-da-serie-fala-sobre-sucesso-do-projeto/idmedia/4f996614fc9b6f4f89a09f88.html), o policial/investigador dessa série foi pensado à partir dos moldes clássicos do policial da década de 10/20, de autoria de um escritor americano, que citou algumas características que devem ser pautadas nas normas de um policial: crime + investigação = solução.,

A trama teve o Rio de Janeiro como pano de fundo e girava em torno do delegado Medeiros (Milhem Cortaz), seu fiel escudeiro, o Brandão (Cláudio Gabriel) e ainda, do “amor” mal resolvido do delegado com a inspetora Clarice (Rafaella Mandelli). Os citados atores estavam maravilhosos, com um timbre perfeito em suas interpretações conseguiram contar a história que queríamos assistir. Pelo menos a mim, o seriado conseguiu seu objetivo. Sou de uma época em que assistia-se “Kojak”, um seriado americano exibido no Brasil na década de 70, no qual mostrava-nos um tenente de policia que trazia para seu distrito algumas malandragens das ruas de Nova York, escandalizando colegas da delegacia. Papel muito bem desempenhado pelo ator Telly Savalas. Lembro-me também, que gostava de ler revistas em quadrinhos que abordavam a investigação, cito: Zagor, Tex, dentre outras. Em minha casa convivia com meu irmão, que seguiu carreira militar. Daí, esse universo sempre esteve presente em minha vida diária.

Cada episódio de “Fora de Controle”, ainda com enredo diferente e mesclado a outros atores, não confundia o telespectador, muito pelo contrário, conseguia-se desvendar o mistério junto com o Medeiros e, às vezes, até "antes" dele. Uma das principais qualidades da série nasce da recusa dos autores em seguir  uma linha narrativa convencional, promovendo a interação entre os personagens de uma maneira nada ordinária. Apesar das suas fragilidades e inconstâncias enquanto seres humanos.  Eles se chocam uns com os outros e destes encontros é que surgem novos braços para a trama. A originalidade com que esse caos urbano, a violência, foi retratada, mostra-nos uma série  inteligente, pensada, elaborada, tinha um propósito e sabia exatamente onde queria chegar, exibindo a graça, a leveza e a perspicácia que ela foi construída.
Como nenhum dos personagens se revela na primeira camada e como há muitos deles para administrar, o desenrolar para seus dramas se complica em subtramas, intervenções externas e apêndices. Mas o Marcílio organiza os desfechos no “final” e, a série não se alonga em paralelismos que poderiam tirar a força das tramas centrais, deixando espaços mais resumidos para alguns dos personagens mais interessantes. E isso que é o bacana em um trabalho como esse: a organização das ideias e o conjunto da obra.

Claro que toda obra nunca é completa e tem seus altos e baixos. Porém, não me especializei em crítica de teatro, televisão, cinema ou outras mídias, por isso preferi registrar minha visão enquanto telespectadora.

Enfim, “Fora de Controle” me permitiu mexer no “controle” da TV e, conferir que a série foi excelente, focando um anti-herói fictício variando de aventuras breves sem precedentes das proezas dedicadas aos atos em prol do interesse público.

O autor da série, Marcílio Moraes, é um profissional que acompanho seu trabalho há muitos anos e, sei de sua enorme capacidade de contar boas estórias. Esse roteiro foi muito bem disciplinado e calculado dentro da sua galeria de bons trabalhos. A ele, meu muito obrigada por mais este presente.