quarta-feira, 17 de abril de 2013

Nosso Entrevistado, Gilberto Gomes!

Por Helena Vitória
O artista Gilberto Gomes pintando o quadro "Frei Galvão"

O blog “euemeusamigosimortais” sempre prestigia artistas de relevante papel cultural e, o faz na expectativa de reunir ideias e dividir informações. Mais uma vez o blog garimpa por esse Brasil afora, uma raridade de pessoa: o artista plástico, Gilberto Gomes! Com isso, quem ganha é você.

Para quem não sabe ele nasceu em 16 de outubro, em Santa Terezinha – Aparecida-SP, mas considera-se baiano de coração. Desde cedo sua aptidão pelo desenho já apontava o caminho pelo qual o talento o levaria. E foi na Bahia que o artista construiu uma sólida carreira, para mais tarde espraiar–se entre Rio de Janeiro, São Paulo, Europa, Ásia e Estados Unidos onde obteve Lauréis e Premiações com sua obra. Recentemente, foi um dos 12 artistas brasileiros, que teve seu nome inserido no “International Dictionary Of Artists”, publicado pela Editora World Wide Art Books, nos EUA.

Olhando os traços da pintura desse artista é possível afirmar que ele constrói uma linha muito tênue entre presente, passado e futuro. Gilberto apresenta suas obras numa composição artística atraente e, ao mesmo tempo, com uma temática muito atual. Sua arte não expressa pinceladas agressiva e nem cores fortes, traços expressivos, formas contorcidas e dramáticas como é possível identificar nas telas do pintor holandês Vincent Van Gogh, mas em seus trabalhos estão presentes cores e uma inspiração modernista em um estilo muito próprio, que reflete uma mensagem de calmaria e beleza. Tal trabalho difere também das telas de Munch, as quais traziam tristezas e angustias baseadas nas obsessões e frustrações pessoais do artista.

Com tendência para o extremo e quase beirando o exagero em originalidade, as peças são combativas na defesa de transformações pessoais e sociais, quase como as narrativas teatrais, cujo enredo é muitas vezes metafórico, com tramas bem construídas e lógicas. Vale ainda destacar, sua especialização em desenhos a bico de pena, característica bem marcante nas telas do pintor.

Em suas obras é possível identificar o figurativismo, arquitetura, impressionismo, expressionismo, futurismo, abstracionismo que nos remete ao modernismo, pois elas refletem intensas emoções. A riqueza de detalhes que o artista empresta às suas pinturas é o que mais impressiona. Tudo está ali, devidamente exposto, respondendo aquilo que por acaso pensa-se em perguntar. Claro que há inúmeros elementos a serem observados, mas isso é o que chama mais a atenção.

Blog: O que é mito e o que é verdade nesse universo das artes plásticas: a pintura reflete uma atitude mais tranquila e reflexiva ou a pintura dá asas ao artista para que esse não refreie sua imaginação e fuja de toda e qualquer referência à realidade?
Gilberto Gomes: Tudo depende do que vai ser pintado. Se pintarmos uma paisagem com conotação realista, devemos imprimir algo condizente com a realidade. Se pintamos algo subjetivo, daremos asas a nossa imaginação e criatividade. Podemos também nas bases realistas, imprimirmos nossas características pessoais à obra - como se fosse uma Releitura da nossa visão. Assim, podemos pintar um retrato que pareça com o retratado, mas deixando na obra, nossa interpretação. Seria como cantar a música de um determinado cantor, porém usando sua voz.

Como você mesmo define em uma de suas telas, “O Espelho da Alma se resume em Sensibilidade, Paleta, Tintas e Pincéis!”. É possível dizer que recorre à cor como meio de expressão e como forma de engrandecer o caráter, procurando penetrar psicologicamente para revelar a alma do retratado. É isso mesmo?
Independente de Cores temos que ter em primeiro lugar a arte. Se a temos na alma, provavelmente com meia dúzia de traços, conseguiremos imprimir os sentimentos. Às vezes uma obra rica em cores, não possui a sensibilidade e maestria de algo mais simples. Cito como exemplo uma passagem do pintor italiano Giotto, que enviou ao Papa Julio II um papel com apenas uma circunferência desenhada. A mesma foi feita com um toco de carvão, de uma só vez, dando um resultado tão perfeito que os arquitetos e artistas do Papa ficaram impressionados com a destreza do pintor.

As pinceladas de azul, branco e dourado sobre suas telas (característica bem marcante em seus traços) revelam qual tipo de universo?
Revelam meu universo interior, o da alma, visto que os azuis representam a longitude e o atemporal, enquanto que os dourados, a magia e nobreza de caráter.

Ao analisar suas pinturas, nota-se características com o sacro. Mas ela ilustra também algo de “profano”, ao retratar o nu mesclado com semelhanças de anjos/arcanjos, os dois elementos se conjugam de maneira insólita. O que, de fato, há de santo ou profano em suas obras ou tudo não passa de mera coincidência?
Evidentemente, se olharmos o retrato que pintei de “Frei Galvão”, saberemos que se trata do Santo. Mas um nu ou outras composições envolvendo o corpo poderão levar o espectador a criar sua própria visão. O resto é pura coincidência.

Há uma de suas telas (catalogadas) "Maternidade" em 1981, que foi estampada nos Bilhetes da Loteria Federal da CAIXA, nas Séries A, B e C, em 12 de maio de 2001 – em homenagem ao Dia das Mães. Fale um pouco do que foi esse reconhecimento ao seu trabalho.
Em 2000, a convite do senhor Emilio Carazai, presidente da Caixa Econômica Federal de Brasília-DF, minha obra “Frei Galvão na Glória”, foi reproduzida nos Bilhetes da Série A. O sucesso atingido (sendo uma estampa da série artes) fez com que a CAIXA me concedesse um premio “Bilhete do Ano”, possibilitando assim, que mais uma de minhas obras fosse estampada nas séries A, B e C. A data proposta foi o Dia das Mães. Daí, preferi indicar a tela “Maternidade”, pois foi um trabalho que fez parte das minhas pinturas realistas. Foi sucesso absoluto! Inclusive, segundo a História dos Bilhetes da CAIXA, sou o único artista brasileiro a ter duas estampas nessa Loteria. Em se tratando de bilhete de loteria, que tem um público imensurável, tudo leva a crer que a obra foi vista por um grande número de pessoas. Gratificante para o artista, é saber que sua arte tem longo alcance, transpondo localidades, dialogando com pessoas de vários lugares, causando-lhes diversas emoções. É o que podemos chamar de retrato do gesto.

Deu muito trabalho reunir toda, ou quase toda, sua obra em uma coletânea intitulada “Contando a Arte de Gilberto Gomes”? Fale um pouco desse seu momento.
O bom é que o trabalho se resume numa grande satisfação. Esse Projeto “Contando a Arte...”, faz parte de uma coletânea que engloba 22 artistas de expressão da Arte Brasileira, dentre eles, Djanira, Portinari, Waldomiro de Deus, Antonio Peticov, Cláudio Tozzi, Aldemir Martins, Di Cavalcanti, e muitos outros artistas. O resultado foi o prêmio dos prêmios. Naquele momento, pensei: "agora estou ao lado dos artistas que admirava quando criança". Tal experiência confirmou que escolhi o caminho certo, graças a Deus! Momento memorável em minha carreira aconteceu quando o livro foi escolhido para concorrer ao Prêmio Portugal Telecom, ao lado de escritores e livros de artistas renomados da fase biográfica. O livro foi bem aceito, me tributando o quarto lugar do evento, e com isso, me abriu caminho para o reconhecimento Internacional. A procura pelo exemplar foi tão grande, que logo esgotou a primeira edição, rendendo a editora uma segunda edição quase que emergencial.

Qual é a sua visão de mundo pela lente das telas, pincéis e tintas? Há alguma referência artística que o tenha inspirado, como por exemplo: Salvador Dali, Van Gogh, Munch, Monet, Kandinsky, Tarcila do Amaral ou outros tantos que marcaram nossas artes plásticas?
Todo o artista tem suas influências, principalmente no início de carreira. Porém, quando se alcança as próprias experiências, criamos nossa identidade própria. E mesmo que tenhamos uma diversidade de fase, é possível reconhecer uma obra mesmo que essa não esteja assinada. Um ator se inspira em interpretações de outros atores e assim por diante. Nas artes plásticas não é muito diferente, Quando iniciei minha carreira, observei de perto o estilo de pintar de Antonio Parreiras, Pedro Alexandrino, Portinari, Monet, dentre outros geniais artistas.

Lendo sobre Van Gogh, comenta-se que o artista ao pintar suas inúmeras obras tinha de libertar-se dos motivos originais e mergulhar na sua própria imaginação, criando imagens inspiradas dentro de si. É possível perceber tal semelhança também nas obras do Gilberto Gomes?
Perfeitamente. Basta observar que mesmo numa obra convencional, é possível perceber o recôndito, a interpretação e minha identidade, principalmente na fase expressionista, que é quando o artista torna–se mais criativo se liberando dos "ismos",  permitindo o fluir de linguagens e sonhos, sem obedecer critérios, convenções, etc

É possível perceber em suas obras alguma semelhança com a pintura metafísica?
Em arte, toda e qualquer percepção torna-se possível. Giorgio de Chirico, Carlo Carrá e Paul Delvaux, são três nomes representantes dessa pintura, pois em seus traços mostram conhecimentos das técnicas surrealistas e, imprimiam em suas obras conotações metafísicas. Da mesma forma eu procedo. Dependendo do tema em que a obra foi produzida, é possível que o espectador encontre em alguns trabalhos meus, algo de metafísico. Como dizia o pintor Castellane: “a junção de técnicas se denomina 'axiomismo' e isso sugere que uma obra possua várias tendências numa única conotação”. Como a pintura metafísica recusa a arte abstrata contrapondo-se às correntes futuristas e cubistas, evidentemente que o espectador somente a encontrará nas obras de cunho figurativo.

No teatro (universo no qual eu atuo), o artista utilizando diferentes formas de comunicação, ainda assim, precisa da arte e da técnica para comunicar-se com a plateia. Dessa forma, ele consegue transmitir suas ideias, sensações e sentimentos. Nas artes plásticas é usado o mesmo recurso? O apreciador das galerias de arte consegue fazer essa leitura ao olhar uma de suas telas?
Como toda arte, as visuais também oferecem essa percepção ao espectador. Digamos que uma obra abstrata, com toda sua subjetividade, poderá oferecer diversas visões, inclusive títulos, a quem a observa. No entanto, existem observadores que não conseguem enxergar nada. Já ouvi muita gente dizendo: "não vejo nada naquela obra, a não ser borrões". Se um observador possuir tamanha sensibilidade, com certeza descobrirá nas manchas de um muro, coisas fantásticas! Citaria Miguel Ângelo (artisticamente conhecido por Michelangelo), que fitava as nuvens para descobrir suas figuras. Conheci pessoas que ao assistirem uma peça de teatro, dormiram na plateia.

Como surgiu o convite para participar na exposição das olimpíadas de Londres, em 2012, com sua obra "SPIRIT OLYMPIC" e sair do evento trazendo na bagagem uma medalha de participação?
Um dia ao abrir minha caixa de e-mails, estava lá uma mensagem do Zeng Kejun (Conselheiro Cultural da Embaixada da China no Brasil), convidando-me para os Jogos Olímpicos de Londres. Minha primeira impressão foi pensar que se tratava de confusão de nomes, afinal não sou atleta! A mensagem estava em Espanhol e assim que fiz a tradução, constatei que o convite era para mim mesmo. A mensagem dizia: "tenho grande apreço e admiração pelo seu belo trabalho e espero uma obra sua magnífica". Essas palavras pra mim já seriam um premio, pois o Zeng é tido como um dos maiores experts em arte e cultura mundial.
Após ler a mensagem, tomei conhecimento que todos os jogos olímpicos (desde Beijin/China) teriam como parte oficial em seu calendário, uma Mostra Internacional de Artes, cuja temática estivesse voltada às olimpíadas. Como toda Olimpíada é patrocinada culturalmente pelo País que antecedeu os Jogos, ficou fácil. Portanto, a mostra "Olympic Fine Arts/Creative Cities Collection" seria realizada como parte dos jogos olímpicos de Londres 2012, com abertura oficial no Royal Museu/Barbican Centre Arts/Londres. Mostra essa, composta por 500 artistas selecionados entre 15.000 provenientes de 80 países dos continentes participantes dos jogos. Apenas seis brasileiros convidados!
A Medalha Olímpica de Ouro, foi concedida a todos os artistas premiados no evento. A obra “Spirit Olympic”, foi uma delas. Com toda modéstia, é um sentimento nobre receber algo tão valioso em termos de premiação. Tal exposição é considerada a maior do mundo em termos de arte. Fiquei honrado de ter participado junto a 500 artistas que foram selecionados por uma respeitada curadoria a nível internacional. Palavras não conseguem traduzir a minha felicidade.

São mais de 30 anos de carreira. Mudou alguma coisa depois dessa participação nas Olimpíadas?
Tudo muda e isso é previsível. Afinal, trabalhamos para que nossa arte chegue até as pessoas. Com isso, o reconhecimento vem junto. Quando fui convidado para esse evento de grande magnitude das artes, agradeci a Deus por ter me dado o privilégio de ser artista e me conduzido pelo caminho certo. O reconhecimento da obra e também do artista nessa mostra, trouxe benefícios em termos de valorização do meu trabalho e, possibilitou a inserção do meu nome na História da Arte Universal. Isso abre outras portas, como por exemplo, já estou na lista de convidado especial para os Jogos do Rio de Janeiro.

Uma pergunta que sempre faço aos meus entrevistados: O que você leva do Gilberto Gomes para suas telas?
"Pensamento, coração e alma", a trilogia que rege minha criação - pois, para construir uma obra de arte é preciso meditar muito, sentir a essência e criar a efervescência interior. O resto vem com paleta, tintas e pincéis.
Entre as décadas de 1975 a 1990, em algumas das pinturas de motivos religiosos e mitológicos, usei minha própria fisionomia como modelo. Algo perfeitamente aceitável nas artes, pois os artistas costumam às vezes e até inconscientemente, deixarem seus traços em algumas obras. Isso faz parte da nossa Identidade e sensibilidade.

Saiba mais sobre Gilberto Gomes e suas obras: www.gilbertogomes.com.br

2 comentários:

Teste disse...

Muito boa a reportagem e a entrevista sobre este maravilhoso artista plástico. Adoro ele e suas obras.

Teste disse...

Muito boa a reportagem e a entrevista sobre este maravilhoso artista plástico. Adoro ele e suas obras.

Kathya R. G. Stolf